Certo dia perguntaram a um famoso escultor como ele conseguira tirar um anjo de uma pedra e ele respondeu dizendo que o anjo já estava lá e que ele só fez aparar as arestas. Dentro de nós existe um ser humano melhor, lindo e equilibrado, cabe a nós deixarmos Deus aparar as arestas

A imagem que temos dos místicos na maioria das vezes, é de que eles são seres totalmente divinos onde a humanidade não tem vez. Podemos concordar que eles são divinos por ser Deus o seu criador assim como é de todos nós.

Talvez pelas ações e atitudes deles, a imagem de humanidade que temos, vá se distanciando dos nossos olhos e da nossa realidade. Sentimo-nos incapazes de atingir o mesmo grau de perfeição que eles alcançaram.

Outros pensam firmemente que só aqueles que são muito bons têm o merecimento de viver experiências místicas, como por exemplo, ver Jesus ou Nossa Senhora. Mas na verdade, quem de nós mereceria tal privilégio? Todavia se não temos o merecimento de ver Jesus, menos ainda teríamos o merecimento de comungar o Seu Corpo e Sangue, no mistério que celebramos na Eucaristia. Diante da experiência da comunhão eucarística, as outras experiências místicas não ficariam em segundo plano?

Jesus que é Deus quis ser humano, e nós vivemos tentando suprimir a nossa humanidade. Ora, Deus poderia ter nos feito seres divinos como os anjos, mas Ele quis nos fazer humanos, então porque não assumir esta natureza que também é divina?

Ser humano é ser totalmente divino e isso indiscutível e os místicos com certeza descobriram isso. Passaram então a buscar a humanidade divina que tinha se perdido dentro de si.

O nosso orgulho é muito grande e por isso achamos que ser humano é algo ruim, que está num plano inferior, então vivemos correndo atrás de experiências “profundas” da manifestação de Deus, sem lembrar que foi justamente esse o pecado de Adão e Eva.

Nós fazemos o caminho contrário fugindo da humanidade, nos preocupamos tanto em viver êxtases como os dos Santos que acabamos deixando de ser bons cristãos. Na verdade, o caminho é de volta. Devemos retornar à humanidade nos moldes em que Deus nos criou.

Ser humano talvez seja mais difícil do que ser divino, porque no mundo divino não existe sofrimento ao contrário do mundo real. Às vezes a busca por êxtases é somente uma fuga da realidade.

Quando se deu a transfiguração lá no Tabor, Jesus proporcionou aos discípulos uma experiência mística e quando eles quiseram ficar lá, o evento acabou e tiveram que retornar ao mundo.

Devemos compreender também que uma experiência dessas não é uma recompensa que Deus nos dá por bom comportamento. Quando lemos a história dos místicos encontramos algo interessante. Junto com a revelação divina vem uma grande responsabilidade, ou seja, é antes um compromisso e não um prêmio por bom comportamento. Desejamos passar por certas experiências e não imaginamos o verdadeiro sentido da revelação.

Descobrimos outro detalhe importante entre os místicos, eles eram simples. Ser simples é o segredo da santidade, disse Frei Damião de Bozzano.

Nós não queremos ser simples. Mas quando temos um coração simples, a vida se transforma, fica mais bonita, Deus se torna mais próximo. Vivendo a simplicidade percebemos as belezas da vida e até um abraço de um amigo se torna uma experiência mística.

Insistimos em buscar lá em cima o que está cá em baixo, dentro de nós, que é Deus! Então acontece uma luta. Deus que quer nos fazer simples e nós que temos o dom de complicar tudo. Se descobrirmos o caminho de volta, já estamos vivendo com certeza uma grande mística.

Fazer o caminho de volta torna-se doloroso porque não aprendemos a perder, e para ser simples é necessário perder o orgulho, o apego, pessoas, dinheiro, regalias. Se tivéssemos o coração simples poderíamos perceber o mundo invisível que existe ao nosso redor.

Traçar um caminho de volta seria imprudente, pois cada um de nós anda por uma estrada diferente, mesmo buscando o mesmo Deus. Esse caminho podemos fazê-lo dando um passo após o outro, de forma equilibrada e acompanhada por alguém que nos ajude. O mais importante, no entanto, é olharmos para Jesus e desejarmos ardentemente o dom da simplicidade que nos torna semelhantes a Ele, e saber que para sermos fiéis precisamos amar, pois só quem ama permanece fiel até o fim.

Um passo muito importante a dar em direção à mística é o autoconhecimento. Precisamos nos conhecer para nos amar, pois nós somos especialistas em camuflar a nossa verdadeira pessoa, por medo de não sermos aceitos pelos outros. Temos que decidir se somos nós mesmos ou quem o mundo exige que sejamos.
O objetivo é alcançar o equilíbrio interior que por conseqüência reflete no nosso exterior, nos relacionamentos com os irmãos e com Deus.

Temos que encarar o nosso verdadeiro EU com amor e não com pesar, porque isso é simples. É um pouco trabalhoso sim, mas é uma aventura que vale a pena viver.

Certo dia perguntaram a um famoso escultor como ele conseguira tirar um anjo de uma pedra e ele respondeu dizendo que o anjo já estava lá e que ele só fez aparar as arestas. Dentro de nós existe um ser humano melhor, lindo e equilibrado, cabe a nós deixarmos Deus aparar as arestas. Para quê então ficarmos presos dentro da pedra?

Para crescer na espiritualidade é necessário antes crescer na humanidade e para isso é essencial conhecê-la. Antes de trilhar o caminho para o alto é preciso descer ao íntimo do próprio ser, pois toda construção começa de baixo. O alicerce que está em baixo é que dá segurança e sem ele a construção irá ruir com toda a certeza.

Na vida espiritual acontece que a humanidade é o alicerce, isto é, o fundamento que sustenta a espiritualidade. Apesar de ser essencial na construção o alicerce fica escondido sob a obra construída. E na espiritualidade não é diferente!

Para construir este alicerce é necessário conhecer-se. Saber os próprios limites, defeitos, fraquezas, o temperamento, enfim tudo o que compõe o ser humano. Com a ajuda de Deus podemos transformar quem somos, num alicerce forte, seguro e eficaz para aí sim, começar a construir uma vida espiritual centrada em Deus.

Querer ter uma espiritualidade firme e frutuosa sem assumir o ser humano é como construir uma casa sem alicerce. Um bom exemplo disso é São Paulo. Quando lemos suas cartas nos deparamos com um homem humano, que depois de encontrar-se com Jesus ficou a sós consigo mesmo, chegando a afirmar que “…não fazia o bem que queria, mas o mal que não queria. ” (cf Rm 7, 19). Ele firmou seu alicerce e então construiu a sua vida íntima com Deus, aproveitando das suas fraquezas fazendo delas um trampolim para chegar a Deus.

É preciso ter a coragem de encarar a si próprio sem máscaras. Isso se torna complicado porque na maioria das vezes não gostamos de nós mesmos, queremos sempre ser outra pessoa, que mais agrade a nós mesmos e aos outros. Por isso disse Jesus: “amarás o teu próximo como a ti mesmo’. ( cf Mat 22, 39).

O autoconhecimento permite o equilíbrio entre corpo, alma e espírito.

A vida mística depende intimamente da vida humana. Quando se vai descobrindo e assumindo em Deus a humanidade, a vida espiritual vai começando a se construir e depois de algum tempo sobressai, não se vê mais o “alicerce” e sim a “construção”, é isso que enxergamos na vida dos santos e míticos, daí acabamos por nos enganar ao pensar que eles não têm nada de humano. Eles têm, só que está escondido como o alicerce sob a vida espiritual, basta olhar melhor e lá estará a humanidade servindo de base para uma vida de santidade totalmente
mergulhada em Deus.

Por tudo isso, ser humano é também uma experiência mística, porque a partir daí surge um caminho novo que leva a Deus. Ser humano não é voltar à vida de antes, nem olhar para trás com tristeza ou autocondenação, é seguir em frente e fazer de tudo o que já aconteceu uma escada para subir ao Céu.
É aí que descobrimos que o Céu começa em nós!

 

Fabrício Alves

 

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