Quando Deus chama e o coração do homem se abre a sua vontade, não é possível resistir. O desejo de tornar Jesus conhecido e amado vai ganhando força no pensamento, encontrando paz na alma. Sabe-se que muito vai ficar para trás, renúncias serão necessárias, a distância daqueles que nos são caros, da família, dos amigos. Os planos mudam, os sonhos passam a ser os de Deus.
Assim nasce uma vocação missionária, entre tantas outras realidades que podem ser somadas a essa pequena narrativa. É mais forte o mandato missionário: “Ide…”
Quando disse sim, não imaginava aonde essa história iria me levar. Eu sei que, foi num dia como outro qualquer, que saímos do Brasil sem saber o que iria acontecer conosco. A única coisa que sabíamos era o lugar onde iríamos morar: Vila de Maganja da Costa, no interior da província da Zambézia, em Moçambique. Afinal, um missionário coloca sua vida nas mãos de Deus e seu desejo primeiro deve ser anunciar o Reino. E, ali eu me encontrava, voltando para África, não como nas outras vezes, mas agora para morar.
Depois de longos voos, seguidos de uma longa jornada que parecia não chegar ao fim, encontravamo-nos no nosso destino. Meu Deus! Pensei em meio ao susto, medo, angústia misturado com um desejo ardente de viver o que Deus havia preparado para nós. Era um lugarzinho além de longe, com ruas de terra e lama, casas com telhados de palha, pessoas que iam e vinham, mulheres carregando seus filhos. Eu já conhecia esse cenário, pois já havia visitado outras vezes a África. Mas agora era diferente. Aquele era o meu povo, minha missão; era por eles que eu estava ali. Bem diferente do que estava acostumado nesses anos todos.
Nossa chegada aconteceu ao mesmo tempo que Moçambique vivia um grande desastre natural, provocado por um ciclone que destruiu cidades inteiras. Nossa vila não foi atingida diretamente, mas sofreu as consequências deste desastre. As pessoas haviam perdido suas plantações, casas, pessoas que amavam.
Entendi, em Deus, que Ele nos havia trazido para ser sinal de esperança. Essa certeza ficou muito evidente num dia em que fui atender a uma comunidade, na qual parte de sua Modesta Capela havia sido destruída com as chuvas. E lá estava eu, naquelas ruínas, atendendo às confissões daqueles que iriam receber sua primeira comunhão e do povo fiel. Como não lembrar do pedido de Jesus a São Francisco: “…reconstrói a minha Igreja”.
A região pastoral onde estamos possui cerca de 260 comunidades que se reúnem em torno da Palavra e da Eucaristia. Em cada capela, o sacrário muito simples guarda Aquele que é a Vida da comunidade.
Impressiona-me a quantidade de horas que esse povo caminha para participar de uma missa ou para se encontrar para rezar. De tempos em tempos, consegue-se chegar a uma Capela e todas as outras, nas proximidades, vêm para a Santa Missa. Acredito que existam muitas realidades que trazem alegria ao coração de um padre, uma delas, sem dúvidas, é chegar a um lugar e encontrar o povo de Deus desejoso de celebrar a Santa Missa.
Entusiasmo, alegria, piedade, amor traduzem um pouco dos sentimentos do coração expresso nas canções e nos olhos atentos ao Mistério que ali está acontecendo.
No fim da tarde, ao voltar para casa, corpo cansado da missão e o coração em paz… Assim tem sido os meus dias aqui em Moçambique. Vivendo um dia de cada vez, colocando o meu o coração onde ele deve estar: na missão.
Como se diz no dialeto que estamos aprendendo: Vagono, vagono – pouco a pouco – tenho aprendido ou reaprendido lições essenciais da vida: não é preciso de muito para se viver, ter um coração simples, alegria em todas as situações, inclusive no sofrimento.
Vou enxergando que vim para uma missão, mas a missão maior tem sido viver o presente com intensidade. Quanto tenho recebido, quanto tenho aprendido aqui, com este povo, com meu povo!
Nabuya aururihene! Deus te abençoe!
One response
Que linda missão e tão abençoadas palavras
. Com certeza Deus lhe usa para trazer as ovelhas de volta 🙏.
Mudou minha vida e a vida da minha família